Era um dia como outro qualquer...
Sábado...
Acordou cedo, espreguiçou-se... abriu os olhos, procurou-o mas ele não estava ali...
De repente apercebeu-se que de um momento para o outro tinha começado a ficar habituada à sua presença sempre tão por perto... Mas naquele dia ele não estava lá para a acordar. Nem nesse, nem provavelmente em muitas outras manhãs que se seguiriam àquela. Levantou-se, ainda meio a dormir, foi até à varanda, onde tantas vezes lhe fazia companhia enquanto fumava um cigarro, olhou para o céu e decidiu sair...
Pegou nas chaves, desceu à garagem, pegou no carro e rumou ao litoral...
Tantas vezes que haviam feito essa viagem juntos nos últimos dias que agora ao viajar sozinha, o caminho lhe parecia meio estranho.
O sol estava meio envergonhado, e o vento parecia querer estragar aquilo que poderia ser uma bela tarde de praia...
Andou, andou, até que chegou a um local que lhe parecia bem agradável para se estender na areia e ganhar uma bela cor de verão. Não foram precisos mais de dez minutos até que alguém que não conhecia a abordasse:
- "desculpa, estás sozinha?"
- "estou e gostaria de assim continuar" - ripostou já meio de sobrolho carregado a pensar (era só o que me faltava, um gajo a meter-se comigo...)
- desculpa lá eu vir assim falar contigo mas é que neste sítio há muitos mirones e daqui a pouco estão uns quantos a aborrecer-te... se quiseres podes deitar-te ali um pouco mais a cima, eu também estou sozinho, vão pensar que estamos juntos e já ninguém te chateia. Não te preocupes, que eu sou inofensivo...
(Inofensivo? LOL... pensou, sim, por acaso tem aspecto disso, coitado do gajo, a querer ser simpático e eu a ser logo desagradável - pensou)
Ao olhar para os rochedos viu que ele podia ter razão e que já por ali apareciam umas cabeças de gajos que não têm mais nada que fazer se não espreitar quem apanha banhos de sol na praia... as mulheres claro!
E ali ficaram, depois de se apresentarem, sem dizer uma única palavra durante umas duas horas.
Entretanto o sol desapareceu, as nuvens começaram a baixar e já mais tranquila ela deixou que, naturalmente, se iniciasse uma conversa. Afinal de contas, o fulano até tinha sido simpático, e continuava a ser "inofensivo"...
E conversa puxa conversa, acabaram a tomar um refresco numa esplanada de café e a combinar um dia qualquer tomar um café...
No fim do dia ela parou um pouco para pensar naquilo...
Uma situação nada comum...
Daquelas coisas que raramente acontecem e que a ela nunca antes tinha acontecido.
Porquê?
Provavelmente porque ela nunca deixava.
Fechava-se. Era desagradável. Antipática. Acima de tudo... Desconfiada.
E por vezes perguntava-se porque seria assim tão desconfiada...
Por que razão não conhecia mais pessoas em situações parecidas com esta?
Estaremos nós sempre a desconfiar de todos os desconhecidos que se aproximam de nós?
É um problema das mulheres...?
... ou...
... também acontece com os homens? (em relação a mulheres claro)
Acabou por achar piada à situação...
Quem sabe não teria conhecido por acaso alguém de quem acabaria por ficar amiga?...
Apesar de o assunto lhe ter merecido alguma atenção logo esqueceu o assunto e voltou a pensar que ao chegar a casa não encontraria a companhia que desejaria...
Quem sabe se outro dia destes ele a acordaria bem cedo...